31.05

Não sei, não sei o que mais fazer.
Estou a meias. Como preferirem.
Parece que as palavras já estão... Aliás, parece que tudo daquilo que vos faço... Simplesmente, nada. Nada.
E o mais engraçado, sinto que nada faz mais sentido.

Não faço ideia do que esteja eu aqui a fazer.

Digam o que quiserem do que acham, do que idealizam. É sempre bom saber.

30.05

"I’ve asked some people in my neighborhood
where does my soul live
One secret for me
they say you’re keeping, my dear
I’ve asked them to give me back
the time, days, hours,
There’s love scent
in the Spring
they say

Give me birth
at a May dawn
Bathe me
in clear water
I’m keeping a flower
when everybody else leaves
I’m keeping you
for as long as I live

Steal a bit of sun for us
there’s no tomorrow, no today
It’s easy
when a song finds your heart

Give me birth
at a May dawn
Bathe me
in clear water
I’m keeping a flower
when everybody else leaves
I’m keeping you
for as long as I live."

Youth In Revolt


29.05

And I shouldn't have looked because now I can't look away.

19.05

E faz hoje. Faz hoje um ano.
Quem diria, ahahahh!

Take Me As I Am



Do you know when you were already born
Do you know this is the way it would be
Do you know when you were already born
You were already you and I already me

So take me as I am
Take me as I am

I know
It's easier said than done
But we've talked a million hours
To end up just where we begun
In this time we're passing
With these distractions
We could be having fun

So take me as I am
Take me as I am
Forget your plans

Do you know when you were already born
Do you know this is the way it would be
Do you know when you were already born
You were already you and I already me

So take me as I am
Take me as I am
Forget your plans

Au Revoir Simone

19.05

Sinto-me como um gato - a deambular pela noite, à vontade no silêncio e na escuridão; graciosamente a saltar suavemente do chão para o meu poleiro usando a força dos meus ombros e braços em uníssono com o impulso potente das minhas pernas.
Estico-me como um gato para sentir o prazer dos meus músculos a funcionar - e deito-me para deixar o meu corpo todo relaxar e ficar mole, e no entanto alerta a todos os sonos e a todos os movimentos. Num sono sadio mas leve, enrolada no meu próprio calor, eu durmo. E sonho que estou a ser acariciada, acarinhada, abraçada e amada pelo meu...
Como um gato, só posso ter um dono. Ronrono nos braços dele. Com ele dormiria com satisfação.
É para aí que eu quero ir.

Anónimo

Esta é uma dessas vezes.
A realidade às vezes vem de rompante - a realidade não é sempre má, mas pode ser.
Não adianta nada combatê-la - só temos de a deixar chegar.

16.05

Flashes ocasionais de medo.

15.05

And in an instant,
I had my life back?

Como pude esquecer, bolas!

9.05

I can feel him breath,
As he's sleeping next to me,
Sharing pillows and cold feet,
He can feel my heart,
Fell asleep to its beat,
Under blankets and warm sheets.

If only I could be in that bed again,
If only it were me instead of her.

Does she watch your favorite movies?
Does she hold you when you cry?
Does she let you tell all your favorite parts,
When you've seen it a million times?
Does she sing to all your music,
While you dance?
Does she do all these things,
Like I used to do?

Runaway



I was feeling sad
Can't help looking back
Highways flew by
Run, run away
No sense of time
Like you to stay
Want to keep you inside

Run, run, run away
Lost, lost, lost my mind
Like you to stay
Want you to be my prize

Run, run, run away
Lost, lost, lost my mind
Like you to stay
Want you to be my prize

I was feeling sad
Can't help looking back
Highways flew by
Run, run away
No sense of time
Like you to stay
Want to keep you inside

All along, not so strong without these open arms
Hold on tight
All along, not that strong without these open arms
Lie beside
All along, not so strong without these open arms
Ride beside

Run, run, run away
Lost, lost, lost my mind
Like you to stay
Want you to be my prize

Run, run, run away
Lost, lost, lost my mind
Like you to stay
Want you to be my prize.

Yeah Yeah Yeahs

8.05


It seems to me they're all stepping back.

Uma Esplanada sobre o Mar

A rapariga estava sentada a uma mesa numa esplanada sobre o mar. Vestia de branco e era loura, mas muito queimada do sol. Ao lado da mesa estava montado um guarda-sol giratório de pano azul que o criado veio regular, para acertar bem a sombra. O criado não perguntou nada e inclinou-se apenas e a rapariga pediu um refresco. Era a meio da tarde e o sol batia em cheio no mar, que se espelhava aqui e além em placas rebrilhantes. O céu estava muito azul e o ar era muito límpido, mas no limite do mar havia uma leve neblina e os barcos que aí passavam tinham os traços imprecisos, como se fossem feitos também de névoa. Na praia que ficava em baixo não havia quase ninguém e o mar batia em pequenas ondas na areia. A espuma era mais branca, iluminada do sol, e o ruído do mar era quase contínuo e espalhado por toda a extensão das águas.
A rapariga de vez em quando olhava ao lado a porta que dava para a esplanada e depois olhava o relógio. Voltava então a olhar o mar e ficava assim sem se mover. Tinha os olhos azuis muito brilhantes, contra a pele morena e o traço negro que os contornava. Foi num desses momentos de alheamento que o rapaz entrou. À porta da esplanada deteve-se um momento a orientar-se por entre as mesas ocupadas, mas logo localizou a rapariga sob o guarda-sol azul. Vestia calça branca e uma camisola amarela de manga curta. E era louro como a rapariga. Quando ela o reconheceu, fez-lhe sinal, mas ele já a tinha visto. Sentou-se-lhe ao pé e olhou em volta como se procurasse alguém. As mesas estavam quase todas ocupadas sob guarda-sóis coloridos e uma ou outra ao sol. Era quase tudo gente jovem, vestida de cores claras de praia.
- Desculpa, fiz-te esperar - disse ele.
- Cheguei há pouco, o criado nem trouxe ainda o que lhe pedi. E que é que me querias dizer?
O criado, com efeito, trazia o refresco para a rapariga, voltou-se para o rapaz a perguntar se tomava alguma coisa.
- Pode ser o mesmo - disse o rapaz.
O sol caía em cheio sobre a praia, iluminava o mar até ao limite do horizonte.
- Que é que me querias dizer? - perguntou de novo a rapariga.
Ele sorriu-lhe e tomou-lhe uma das mãos que tinha sobre a mesa.
- Gosto de te ver - disse depois. - Gosto de te ver como nunca. Fica-te bem o vestido branco.
- Já mo viste tanta vez.
- Nunca to vi como hoje. Deve ser do sol e do mar.
- Que é que querias?
- Deve ser dos olhos limpos com que to vejo hoje.
O criado trouxe o novo refresco e ambos se calaram, tomando as bebidas.
- Não sei para que são tantos mistérios. - disse a rapariga. - O melhor é dizeres logo tudo de uma vez.
- Não se trata de mistérios. Trata-se de estar certo o que te disser.
- Porque é que não há-de estar certo? - perguntou a rapariga.
- Por tanta cosia - disse o rapaz. - Eu achei que te ficava bem o vestido e tu estranhaste que eu o dissesse.
- Já me tinhas visto o vestido muita vez. Foi só por isso.
- Nunca reparaste que há certas coisas que nós já vimos muitas vezes e que de vez em quando é como se fosse a primeira?
- Nunca reparei - disse a rapariga.
- Nunca ficaste a olhar o mar muito tempo?
- Sim, já fiquei.
- Ou o lume de um fogão? - disse o rapaz.
- E que queres dizer com isso?
- Ou uma flor. Ou ouvir um pássaro cantar.
- Sim, sim.
- Não há nada mais igual do que o mar ou o lume ou uma flor. Ou um pássaro. E a gente não se cansa de os ver ou ouvir. Só é preciso que se esteja disposto para achar diferença nessa igualdade. Posso olhar o mar e não reparar nele, porque já o vi. Mas posso estar a olhar e não me cansar da sua monotonia.
O rapaz tinha o olhar absorto na extensão das águas e permaneceu calado algum tempo. As águas brilhavam com o reflexo do sol na agitação breve das ondas. A rapariga calava-se também, fitando o rapaz, porque percebia que ele não acabara de falar. Mas o rapaz calou-se como se não tivesse mais nada a dizer e ela perguntou:
- Mas que é que querias dizer-me?
- Mesmo as coisas mais banais são diferentes se alguma coisa importante se passou em nós.
- Se alguma coisa importante se passou em nós, não reparamos nas coisas - disse a rapariga, acedendo um cigarro.
- Se é coisa mesmo importante, tudo se nos transfigura - disse o rapaz, de olhar alheado no horizonte.
- Que coisa importante? - perguntou a rapariga.
Mas ele não respondeu e ela perguntou outra vez:
- Que coisa importante?
- Não sei. Uma coisa importante. Se te morresse o pai e a mãe e ficasses subitamente sozinha, o mundo transfigurava-se. Se tivesses tentado o suicídio e te salvasses, mesmo as pedras e os cães começavam a ser diferentes. Estavas farta de conhecer os cães e as pedras, mas eles eram diferentes porque os olhavas com outros olhos.
E de novo se calou. Mas agora também a rapariga se calava na indistinta ameaça de não sabia o quê. O sol rodara um pouco, apanhava agora a cabeça do rapaz, incendiando-lhe o cabelo tombado para a testa. Levantou-se, tentou ela fazer girar o guarda-sol azul no pé de ferro articulado, seguro com um gancho recurvo e uma pequena corrente. Sentou-se de novo mas verificou que ficava ela agora com uma mancha de sol que lhe apanhava um ombro e o braço e uma pequena zona de face. Bebeu um pouco de refresco, olhou distraidamente a linha longínqua do limite do mar. Havia no rapaz uma notícia a dar, mas a rapariga não sabia como fazer a pergunta certa para estar certa com a resposta que queria ouvir. E de súbito disse:
- Pediste-me para estar aqui às quatro horas. Telefonaste-me duas vezes. Vieste à praia para isso. Porque é que que afinal vieste?
- Mas tenho estado a explicar-te porque vim.
- Tens estado a explicar porque vieste. Mas falta o mais importante. Falta dizeres por exemplo que tudo está acabado entre nós. Falta dizer que essa tal tua amiga sempre conseguiu o que queria. Falta dizer que nunca me achaste tão bela como hoje, mas que já me não podes amar. Falta dizer isso, mas tens de preparar o terreno, porque a coragem nunca foi o teu forte e julgas que não é o meu.
Falava devagar mas com uma grande intensidade interior, e ficou assim ruborizada, os olhos brilhantes de violência. O rapaz ouviu-a e não respondeu. Pensou primeiro concordar com a rapariga e dizer-lhe talvez que já não a amava. E evitava assim ter de lhe dizer a verdade. Quando ela depois a soubesse, talvez já não sofresse, talvez o esquecesse mais depressa. Mas sofreria ele por aceitar uma mentira que ia contra o que sentia. Julgava ser mais fácil dizer tudo e via agora que não.
- Nada disso é verdade - disse por fim.
O mar brilhava cada vez mais. As placas incandescentes tremeluziam nas águas e faziam semicerrar os olhos ao rapaz. Vergou-se para a mesa e bebeu um gole de refresco.
- Há coisas que é difícil dizerem-se - continuou. - É preciso que tudo esteja de acordo. Com esta luz e esta alegria de Verão e este bem-estar de uma esplanada, eu não podia dizer-te, por exemplo, que me vou matar.
- Que estupidez. Mas não tentes desconversar.
- Seria estúpido - disse o rapaz. - Não vou de facto matar-me. Mas não tinha outra maneira de to dizer, se fosse. E seria estúpido, porque tudo estava em desacordo. Não era coisa que se dissesse a uma hora de praia e de sol.
A rapariga ficou a olhá-lo algum tempo intensamente, a tentar ouvir-lhe o que já não dizia.
- Nunca está certo, aliás, seja a que hora for - continuou o rapaz.
- Tudo pode estar certo talvez a qualquer hora. Menos essa banalidade ridícula da morte. De tudo se pode falar, menos dela. Nem falar, nem filosofar, nem fazer seja o que for que a tenha a ela em conta. Há uma aliança contra ela como contra uma infâmia. Ou como se o não falar a excluísse. E é a única verdade perfeita.
- Mas é uma conversa idiota - disse a rapariga fitando o companheiro de lado, a entender.
- Tudo é erro e ludíbrio: o triunfo, o poder, as ideias, mesmo as matemáticas. Tu pensa no que quiseres e verás que tudo erra. Há só uma coisa que não. E é do que se não pode falar.
O sol baixara um pouco e estendia agora uma estrada de lume pelas águas. Um barco à vela atravessou-a e um momento foi como se as chamas o envolvessem. O rapaz calou-se e a rapariga não sabia que perguntar. Ou tinha várias perguntas, mas não sabia qual estaria certa.
- Sempre fazes exame em Outubro? - disse ela por fim.
Tentava contorná-lo ou distraí-lo para depois o surpreender onde ele não esperasse.
- Não devo fazer - disse o rapaz. - E mesmo não seria nunca em Outubro. Os exames de Outubro são sempre em Novembro ou Dezembro. Às vezes vão mesmo até ao segundo período.
- Porque é que não deves fazer? - perguntou a rapariga.
O rapaz olhou-a no seu vestido de praia, na cor morena da pele, nos cabelos claros que lhe caíam sobre os ombros, e outra vez sentiu que não sabia como responder. Na praia havia já alguns veraneantes à sombra dos toldos ou estendidos ao sol. Um ou outro mergulhava mesmo nas ondas cheias de luz.
- Porque não deves fazer? - insistiu a rapariga. - Tens ainda uns meses para te prepares.
- Creio que um mês chegava-me - respondeu o rapaz. - Mas não adiantava nada.
- Porque não adiantava?
Ele ficou em silêncio outra vez, olhando o mar. Tinha uma resposta certa, mas tinha medo dela como se ele próprio a não soubesse. Depois disse:
- O médico foi claro. Havia um relógio na secretária e olhei as horas. Eram cinco precisas. Estava calmo e reparei. Tenho dois ou três meses no máximo. O tempo contado dia a dia. E é extraordinário como tudo agora me parece diferente. Mais belo talvez. Creio que vou viver agora mais intensamente. Dia a dia. E três meses no máximo.
- Espera! Três meses como? - disse a rapariga, subitamente iluminada.
Pôs-lhe a mão no braço e olhava-o fixamente. Ele olhou-a também e ambos ficaram a tentar entender-se em silêncio. Depois ela tirou a mão do braço do rapaz e acendeu novo cigarro. O sol escorria do alto e inundava-lhes agora toda a mesa. O rapaz tomou o copo e bebeu um gole devagar.
- Diz outra vez - repetiu a rapariga. - Deixa-me entender. Diz outra vez, para entender tudo muito bem.
- Tu vais dizer que tudo isto é estúpido e eu sei bem que é. Mas se a gente pensar bem, a estupidez é só nossa.
- Sim. Mas explica tudo muito bem. Desde o princípio. Devagarinho.
- A estupidez é só nossa, porque a vida não é verdade. Mas é a única coisa em que se acredita - disse o rapaz.
- Sim - repetiu a rapariga. - Mas era bom que explicasses desde o princípio. Devagarinho. Para eu não acreditar também. Está um dia cheio de sol.
- Mas a explicação é simples - disse ele, balouçando o líquido no fundo do copo. - Eu vou explicar tudo. Eu vou.
Estava uma tarde cheia de sol. As águas brilhavam até ao limite do horizonte, um barco à vela ia passando pela estrada de lume. O ar estava quente. E a brisa do mar quase não chegava ali.